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22/Fev 2024

SÃO SEBASTIÃO SE DESPEDE DE CARDIM, EX-PRESIDENTE DA CÂMARA

O ex-presidente José Cardim de Souza faleceu na madrugada desta quinta-feira (22/02), no Hospital das Clínicas de São Sebastião. O atual presidente da Câmara, vereador Marcos Fuly, decretou luto oficial de três dias no Legislativo. 
Cardim esteve à frente do Poder Legislativo por duas vezes (1983/1984 – 1997/1998) e foi eleito vereador por cinco mandatos consecutivos.
Também teve passagens no Executivo, como secretário municipal de Cultura, Turismo e Esportes (2001 a 2004), e participou de eleições para os cargos de prefeito (1988) e vice- prefeito (2016). 
A sua longa trajetória fez com que se tornasse um dos maiores conhecedores da política sebastianense. 
Cardim acompanhou de perto as mudanças que ocorreram na cidade desde o período final da ditadura militar, em 1982, quando se candidatou a vereador pela primeira vez, disputando as eleições pelo partido PDS (antigo Arena). 
O ex-presidente nasceu 28/02/1955, na maternidade de Caraguatatuba, primeiro filho do casal José e Shirley Cardim de Souza. 
“Só nasci em Caraguá porque o hospital daqui não estava funcionando”, ressaltava. 
Seu pai era santista, conhecido pelo apelido de Gringo, e se destacava, na época, por ser um grande goleiro.
Em 1954, Gringo veio para São Sebastião disputar uma partida de futebol pelo time Flor do Marapé, quando conheceu sua futura esposa. 
“Ele tinha 1,90 m de altura e foi um dos melhores goleiros que a cidade conheceu, por isso, foi homenageado pelo ex-prefeito Luiz Rogério Martins, que deu seu nome para o Ginásio de Esportes”, lembrava. 
Na cidade, o pai do ex-presidente trabalhou como contador no cais do porto e depois foi chefe do departamento de Recursos Humanos da Petrobrás. 
Aos 14 anos, o ex-presidente e seus irmãos Marco Antônio (12 anos) e Júlio (9 anos) ficaram órfãos, e passaram a morar com os avós maternos, Carlito e Aurora. 
“Ficamos os três órfãos e acho que isso me ajudou a ser eleito porque éramos considerados os bons meninos do Bairro”. 
O avô Carlito, assim como o seu bisavô e o tio Bernardo, trabalhou para os Correios. Ele era guarda-fios e corria linha para o telégrafo. 
“Eu sempre gostei de história, escutava muito o meu avô e me lembro de ficar deitado com ele na rede, vê-lo com o rádio no peito e ouvindo “...Uirapuru, Uirapuru, seresteiro e cantador do meu sertão...” (cantando). 
Após a morte do avô, o ex-presidente e seus irmãos continuaram a viver com a avó Aurora, na casa do bairro São Francisco, conhecida como “casa da vó”. 
“O Marco mudou, foi pra Santos, o Julio só saiu de lá para casar. Lembro que depois disso, cada filho meu ia dormir uma semana na casa da vó para não deixá-la sozinha, morava um neto com ela por semana”.
Após uma operação de vesícula mal sucedida, aos 85 anos, a avó Aurora Lopes Cardim veio a falecer. A sua morte ocorreu no dia 01/11/1994, data em que o neto Felipe, filho mais velho do ex- presidente, completou 18 anos. 
“Ela fazia meia dúzia de pratos e tinha o costume de ficar de pé, ao lado da mesa, olhando a gente comer. O meu avô comia peixe todo dia, ele pescava, caçava. Eu não nasci pra isso, odiava, gostava de jogar futebol”, conta rindo. 
Profissão – O primeiro emprego do ex- presidente, José Cardim de Souza, foi na empresa Montreal Engenheira, que prestava serviços para a Petrobras.
Já aos 19 anos, ele fez um concurso para trabalhar na estatal como operador, foi aprovado e admitido no cargo de escriturário, passando a trabalhar no departamento de Almoxarifado. 
“Fiquei lá apenas por cerca de 10 meses, mas resolvi falar que ia embora porque não era vida pra mim. Pedi as contas da Petrobras e hoje eu vejo meus amigos aposentados”. 
Após deixar o cargo na empresa, o ex- presidente se mudou para São Paulo para cursar a Faculdade de Engenharia Elétrica. “Não deu certo, voltei para São Sebastião e me casei”.
Casamento - O casamento com a professora Ana Alexandrina Barbiellini Elias Cardim de Souza ocorreu no dia 1º de maio de 1976. O casal tem dois filhos, Felipe (1977) e Fabrício (1979). 
“Ela foi minha primeira namorada, nós estamos juntos desde que eu tinha 16 anos”.
De volta à cidade, casado, o ex- presidente recebeu o convite do sogro para que se tornasse sócio na Loja Bazar Fátima, que ficava no prédio onde atualmente funciona o restaurante Atobá.
Política – Em 1982, São Sebastião era uma cidade pacata, o ex- presidente José Cardim de Souza, trabalhava no Bazar Fátima e não freqüentava a Câmara. 
Apesar disso, ele foi convidado pelos ex- presidentes Henderson Alves das Chagas (Decinho) e Guilherme Tavares (Baiano) para se candidatar ao cargo de vereador.
“Eu nunca tinha pensado entrar para a política, mas eles diziam que eu tinha nascido para aquilo”, conta. 
Na primeira vez que saiu candidato, Cardim fazia parte do PDS (antigo Arena) e foi o 3º vereador mais votado. 
Nesta época, a cidade possuía cerca de 9 mil eleitores, ele obteve 256 votos, sendo 156 votos apenas no bairro de São Francisco. 
“A minha loja tinha uma freguesia danada, eu não tinha tempo para fazer campanha, mas separava meia hora para visitar duas famílias no Bairro, das 7h as 8h30. Visitei o bairro São Francisco inteiro, de porta em porta”, recorda. 
Ele conta que a maior dificuldade nesta eleição foi fazer com que os moradores não se confundissem na hora de escrever o seu nome na cédula de votação. 
“Foi uma dificuldade porque o bairro inteiro me conhecia por Zezo, eu só era chamado de Cardim no centro da cidade e, naquela época, não podia sair candidato com o apelido”. 
Presidência – No 1º biênio da Legislatura 1883/1988, a princípio, havia dois candidatos à presidência, os vereadores Luiz Carlos Bettiati e José Roberto dos Santos, ambos do PDS, partido do prefeito Décio Moreira Galvão.
Com a proximidade da eleição, os dois candidatos “saíram no tapa em frente à porta da Câmara, brigaram e um não votava no outro de jeito nenhum”.
“O Zé Roberto tinha apoio do Décio, havia sido o secretário de educação do governo, mas o Bettiati não votava nele de jeito nenhum. Então, surgiu o Cardim. Eu disse que ia sair candidato porque não conhecia e nem tinha compromisso com nenhum deles”, explica. 
No dia da eleição, era 1h30 da madrugada, o ex- presidente conta que estava na porta de sua casa tomando uma cerveja, quando apareceu o sogro do ex- prefeito Décio Galvão, Nelson Cacetari junto com os vereadores Guilherme Tavares (Baiano) e Dario Leite Carrijo. 
“Eles disseram que o prefeito queria falar comigo naquela hora. A eleição ia ser no outro dia e eu fui lá conversar com o Décio, ele disse: 
- Nós vamos perder a eleição e temos que buscar alguém do lado de lá para fazer o presidente e estamos pensando em buscar o Macalé (Sebastião Gonçalves de Santana). 
- Então, busca dois porque quem não vota sou eu, respondi. Porque? Eu não tinha nada a perder. Eu queria ser candidato, se perdesse eu perderia de pé”. 
Cardim se recorda que na primeira votação para escolha do presidente da Câmara, biênio 1983/1984, houve empate (5 a 5). 
“O Bettiati me chamou e falou: - Queria que você soubesse que eu vou decidir a eleição, o Décio não decide. Conclusão: Eu ganhei a eleição por 6 a 5. Rapaz...  Que alívio! O PDS fez toda a Mesa Diretora”. 
A eleição de 1982, que marcou o início da vida política do ex- presidente da Câmara, José Cardim de Souza, entrou para a história como uma das mais importantes do país.
Neste pleito, o Brasil passou pela experiência da eleição unificada e os eleitores de São Sebastião votaram de uma só vez para vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. 
Como é de imaginar isso causou muitas confusões entre os cidadãos, pois era preciso preencher uma cédula com os nomes ou números de 5 candidatos. 
Por ser considerado Área de Segurança Nacional, ao contrário do que ocorreu em outros municípios, os moradores de São Sebastião ainda não puderam ir às urnas para escolher o prefeito. 
Abertura Política - Nesta eleição, de 1982, também foi implantado o voto vinculado. Por exemplo, se a pessoa escolhesse votar no candidato do PDS para vereador, deveria repetir o voto neste partido para os demais cargos contidos na cédula, caso contrário seu voto era anulado. 
Apesar das estratégias adotadas, as eleições de 1982 representaram uma grande vitória da oposição no Brasil, pois o PMDB conquistou o governo de 9 estados, e o PDT elegeu 1 governador (Leonel Brizola, no Rio de Janeiro).
Mandato Tampão - Em São Paulo, foi eleito o governador André Franco Montoro, fundador do PMDB, que depois foi responsável pela nomeação do petroleiro Paulo Roberto Julião dos Santos para o mandato tampão de prefeito (11/04/1985 a 31/12/1985). 
O mandato tampão foi instaurado com objetivo de evitar a instabilidade política até a realização da eleição direta para prefeito de São Sebastião, que ocorreu tardiamente. 
O professor de história e vereador, Luiz Rogério Martins, foi o 1º prefeito eleito pelo povo, após duas décadas, e administrou a cidade por 3 anos (01/01/1986 a 31/12/1988). 
Base Governista – Na composição da Câmara de São Sebastião, nesta legislatura (82/88), o PDS, partido da base governista do qual o ex- presidente José Cardim de Souza fazia parte, representava a maioria. 
A legenda do PDS elegeu Dario Leite Carrijo (PDS), Luiz Carlos Bettiati (PDS), José Roberto dos Santos (PDS), José Cardim de Souza (PDS) e Elpídio Pereira de Castro (PDS).
Pelo PMDB foram eleitos Íris de Carvalho Noronha (PMDB), Luiz Rogério Martins (PMDB), Jovani Teixeira (PMDB), Sebastião Gonçalves Santana (PMDB) e José Miguel Gallardo (PMDB). 
Mandato Prorrogado - Se no Poder Executivo foi instaurado o mandato tampão para evitar instabilidade durante o processo de abertura política, na Câmara os vereadores desta legislação tiveram o tempo de mandato prorrogado por mais dois anos ( 01/02/1983 a 31/12/1988). Foram 3  presidentes.  
O ex- presidente, José Cardim de Souza,  3º vereador mais votado na cidade, com 256 votos, assumiu o biênio 83/84.
“Eu tinha 27 anos quando fui vereador pela 1ª vez, não tinha como questionar o governo. A Prefeitura era dura, tinha que pedir vaga de trabalho para o prefeito porque não tinha concurso público. Ninguém queria a Prefeitura porque pagava mal, não tinha dinheiro,não tinha ICMS, diferente de hoje”, explica o ex- presidente José Cardim. 
Concurso Público - Cardim explica que, no final deste mandato, ficou preocupado com a falta de estabilidade dos funcionários da Câmara e decidiu fazer um concurso público. 
“No final deste mandato, 1984, eu pensei “vai mudar o presidente e eles vão dançar”, por isso, decidi fazer um concurso público.  Eu não traí ninguém (emocionado). Na época, a Câmara tinha nove funcionários e o tempo de casa valia como 50% do valor da prova. Eu me lembro do Bozó, Gaiá, Zica, Detinha, Cleto, todos se tornaram efetivos”. 
Projetos – Após deixar a presidência, Cardim continuou atuando como vereador até 1988. 
Durante o governo do ex- prefeito Luiz Rogério Martins, através do seu pedido, foi realizado o 1º calçamento da antiga Rua do Forno, no bairro São Francisco. 
“Lembro que nesta época existia o projeto Cura, que beneficiava a Topolândia inteira e eu perguntei para ele (ex- prefeito Luiz Rogério) se não podia estender para o Bairro. Consegui fazer com que o 1º calcamento na rua do Forno fosse feito”. 
Entre outros projetos que teve a sua participação, Cardim destaca a Escola Nair Ferreira Neves, e o campo de futebol do 7 de setembro, com abertura da Rua Stanley Fragel Madeira. 
Após o término  do mandato de vereador, com 31 anos, o ex- presidente disputou a eleição para o cargo de prefeito de São Sebastião, mas isso nós vamos contar no próximo post.
Em 1988, após o fim do seu 1º mandato na Câmara, o ex- presidente José Cardim de Souza estava com 31 anos, filiado ao PMDB e decidiu disputar a eleição para prefeito de São Sebastião.   
“São Sebastião tinha cerca de 9 mil eleitores, eu obtive 3 mil votos. O Paulo Julião ganhou a eleição com 4,2 mil. Eu perdi na costa sul, mas ganhei no bairro São Francisco e no Topo”, conta. 
Apesar de não ter saído vitorioso nesta eleição, o ex-presidente afirma que a experiência foi importante. 
“É diferente de eleição para vereador porque a gente sai do miúdo para o macro, precisa conhecer tudo. Para vereador, a gente faz uma campanha isolada”, explica. 
Sem mandato público, ao invés de voltar a administrar o comércio da família, o Bazar Fátima, o ex- presidente decidiu trabalhar na CESP, em Ubatuba. 
“Não quis nenhum trabalho na cidade. Fiquei lá e a loja deixei com a Ana. Depois eu fui trabalhar na CESP em Ilhabela”. 
2º mandato – O tempo passou e, na eleição de 1992, o ex- presidente José Cardim de Souza decidiu retornar a vida pública, sendo o 2º vereador eleito com o maior número de votos. 
Nesta eleição, o professor de história Luiz Rogério Martins voltou a se candidatar para o cargo de prefeito, mas foi derrotado nas urnas pelo contador Luiz Alberto de Faria (1993/1996). 
“Ele (ex- prefeito Luiz Rogério) queria que eu fosse o vice dele, mas não aceitei, preferi sair candidato a vereador, tanto que eu fui o 2º mais bem votado, eu obtive 473 votos, pelo PP. Eu tive essa votação forte porque havia sido candidato a prefeito”. 
No mandato de 1993/ 1996, o ex- presidente conseguiu diversas benfeitorias para o bairro São Francisco, entre elas, a quadra de esportes Alberto Luiz Pereira e o calçamento da orla da praia. 
3º mandato – Filiado ainda no Partido Progressista (PP), em 1996, o ex-presidente José Cardim de Souza voltou a disputar a eleição para o cargo de vereador e foi reeleito com 326 votos. 
Apesar de obter um número menor de votos  comparado com a eleição passada, Cardim voltou a assumir a presidência da Casa de Leis, no Biênio 1997/1998. 
“O João Siqueira havia sido eleito prefeito e não se meteu na eleição da Câmara. A cidade já recebia ICMS, era rica, e o Paulo Julião (ex- prefeito) era deputado”, lembra. 
Em 1998, último ano do seu mandato de presidente, Cardim decidiu fazer um 2º concurso público, que ficou conhecido como “Trem da Alegria”.   
“Fiz o concurso de novo e a juíza me deu um prazo de 60 dias para demitir as pessoas que haviam sido aprovadas, eu fiz isso, mas ganhei um processo”, se recorda. 
Após perder o processo na cidade e em São Paulo, o ex- presidente recorreu à justiça em Brasília e ganhou. 
“Eu tive que pagar R$ 50 mil para os advogados me defenderem nesta causa. Eu ganhei esse processo, mas me custou um carro”. 
4º mandato – Apesar das dificuldades enfrentadas, em 1999, ele voltou a disputar a eleição para o cargo de vereador e viu o número de votos dobrar. 
Ainda no Partido Progressista, ele foi eleito com 656 votos para a Legislatura 2001/2004. No entanto, dessa vez, ficou poucos dias na Câmara. 
No dia 15/02, após aceitar o convite do ex- -prefeito Paulo Julião, Cardim assumiu a Secretaria Municipal de Esportes, Cultura e Turismo (SECTUR). 
“Eu vivia a cidade, ia aos saraus todas as sextas- feiras, reformei o prédio da Secretaria como era no passado, todas as janelas e assoalho. Tudo que eu podia fazer, eu fiz. Foi uma experiência feliz”, se recorda. 
5º mandato – Em 2004, o ex- presidente José Cardim de Souza decidiu voltar à Câmara e se candidatou pela 5ª vez para o cargo de vereador. Filiado ao PP, ele obteve 1 mil votos. 
“Voltei com muita experiência e comecei a conviver com os vereadores mais jovens. Eu usava a minha inteligência para o bem, mas me chamavam de tubarão. Eu tinha 27 anos de Câmara e percebi que era hora de parar”, explica. 
Vice- prefeito -  Após 8 anos sem assumir cargo público, em 2016, o ex- presidente recebeu o convite para a disputar a eleição para o cargo de vice- prefeito na chapa do candidato Wagner Teixeira.   
A chapa obteve 4.389 votos e ficou em 3º lugar. Após essa eleição, o ex- presidente José Cardim de Souza se afastou da política e hoje afirma que está aposentado. 
“Faço almoço e café da manhã todos os dias. Eu mudei bastante, tanto que as pessoas me olham e perguntam se estou bem, muitos acham que estou morto. Não saio e não bebo mais. Eu vivo para mim, minha mulher, os filhos e os netos”. 
Sobre as experiências vividas na política, Cardim afirma que não guarda arrependimentos e que, ao analisar os  prós e os contras, o resultado é favorável. 
Balanço - “Não dá para imaginar o que seria se tivesse escolhido outro caminho, eu vejo vários amigos aposentados da Petrobrás, mas será que é bom? Não sei. Fiz o que Deus mandou fazer. Não me arrependo de nada”. 
Atualmente, ele acompanha os filhos Felipe e Fabrício, que desejam seguir os seus passos na política. 
Apesar de não ter nenhuma pretensão de voltar a disputar um cargo público, ele não esconde que gostaria de voltar a assumir mais uma vez à Secretaria de Cultura, hoje transformada na Fundação Cultural Deodato Sant’anna. 
“O eleitorado mudou e muitos que votavam em mim já morreram. Só voltaria para política se fosse para assumir a Secretaria da Cultura. Com certeza, eu tenho muito amor aquela secretaria”.



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